quarta-feira, 16 de maio de 2007

Higiene

Esta manhã encontrei um amor.
Escondia-se entre o pêlo e a pele.
Fugia da lâmina.
Fingia-se morto.
Aqui está ele: vermelho.

Fosse eu mais cuidadoso nunca o teria achado.
Mas não sou.
Chego a apaixonar-me três vezes no mesmo dia.
Às vezes, deixo crescerem florestas para ocultá-los.
Tenho pena.

Mas é preciso cortar e cortar.
Polir o rosto diante do espelho.
Caçá-los em todos os cantos.
E cuspir.
(Exigem-me a máscara lisa, sem cicatrizes)
Os mais higiênicos ainda os engolem em sorrisos suaves.
Eu não.
Eu sou sujo.
Nunca limpo a esperança agarrada entre os dentes.

2 comentários:

Vanda disse...

"Chego a apaixonar-me três vezes no mesmo dia"
até nos podemos apaixonar mil vezes por dia, mas o fundamental é saber cuidar cada paixão como se fosse unica!

Joyce Rodrigues disse...

O eu lírico deste poema, com certeza, é uma pessoa de sorte. Reflito: Apaixonar-se três vezes ao dia... Indago-me: Será por onde este eu poemático passeia? Pelas ruas da minha vida, pela humanidade que observo, creio que eu, não consiga me apaixonar nem uma vez por década...
Fico feliz que ainda há quem saiba sonhar... Pessimistas como eu, não conseguem pregar os olhos.