quarta-feira, 21 de março de 2007

Soneto

violenta-me
a beleza distante, o teu silêncio.
coagula-se o sangue,
a palavra lembrada.

e a murmurada
queima o lábio, exala
odores, e ardores, e incensos
como a pira funerária.

evapora-se o som.
mistério perdido, o tempo.
emparedada, a frase.

só há espaço
para o verso quebrado
onde o amor é diluido na crase

domingo, 18 de março de 2007

Elogio

Esse é o lance:
Buscar cuidadosamente uma pequena beleza.
E ainda ser capaz de surpreender-se ao encontrá-la.

As mais escondidas valem mais pontos,
as que nunca foram achadas;
as óbvias, mas não notadas;
as impossíveis.

As fáceis também tem seu valor:
Nenhuma maravilha é completa
sem ser dita.

Por isso o prazer do elogio:
para participar da beleza do outro.
Para criá-la.
Para roubá-la aos olhos do mundo.

Por isso escrevo poemas:
para também sentir-me belo.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Pálpebra

Tranço sílabas sobre teus olhos.
Para que me olhes.
Para que eu te oculte.
Para que tua humidade se condense sob meu abraço.
Meu alfabeto de gotas.
Por isso minhas palavras são frágeis.
Para que teu sorriso as estilhace.