tag:blogger.com,1999:blog-31669666336507042302024-03-19T02:30:53.541-07:00FragilidadeLucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.comBlogger48125tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-48477087845877431592008-06-18T06:47:00.001-07:002008-06-18T07:17:16.874-07:00Novo EndereçoAmigos,<br /><br />Obrigado pela presença ao longo da vida deste blog, pela leitura atenta aos meus textos e pelos comentários diversos. Estou aposentando (ou dando novas férias) a este espaço. Em seu lugar, um novo blog - PROMESSAS PROVISÓRIAS - entra em atividade, com uma proposta um pouco diferente: não postarei apenas textos meus, mas também poemas de que goste, traduções minhas e de outras pessoas, resenhas, entrevistas etc. Espero vocês lá!<br /><br />um abraço,<br />lucas<br /><br /><a href=http://lucasnicolato.blogspot.com>PROMESSAS PROVISÓRIAS</a>Lucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-760182749841636692008-04-14T06:28:00.000-07:002008-04-14T06:43:37.880-07:00enjambementem que difere<br />um olhar de um<br />olhar?<br /><br />a atração gravitacional da tecla<br />enter<br /><br />ou o cansaço dos calos dos dedos?<br /><br />a gente já discutiu mil vezes mas não chegamos <br />nunca à resposta<br /><br />você arriscaria uma aposta?<br /><br />só sei que na síncope da dança dos pés dos seus versos<br />há algo da nudez breve<br />de um corpo<br /><br />que escreveLucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-42932602159438415552008-03-25T08:54:00.000-07:002008-03-25T08:55:30.418-07:00Varal<em>Morena, minha morena<br />Tira a roupa da janela<br />Que vendo a roupa sem dona<br />Penso na dona sem ela</em><br />(quadra popular portuguesa)<br /> <br /> <br /> <br />fui eu quem fez o poema<br /> <br />mas quem vai vesti-lo<br />se está tão bem costurado<br />que não resta um único buraco<br />por onde passe um pescoço?<br /> <br />fruta sem caroço<br />ovo gorado<br />revólver sem bala<br />espada sem empunhadura<br /> <br />amor sem amor<br />que perdura<br />perdido do corpo<br /> <br />poema do nada<br />lindo e terrível <br />gemido da alma <br />penada<br /> <br />velha roupa colorida<br />flutuando no espaço<br />dessa eternidade<br />encolhida<br /> <br />é isso que me espanta:<br />com tanta roupa<br />e pouca garganta<br />a corda já fica pequena<br /> <br />quem vai vestir o poema?Lucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-63787920641503720342007-12-14T11:43:00.000-08:002007-12-14T11:44:30.629-08:00FériasCaros leitores,<br /><br />Estou tirando férias por tempo indeterminado.<br />Então não esperem atualizações tão cedo.<br /><br />Para qualquer contato: lucasnicolato@gmail.com<br /><br />um abraço,<br />LucasLucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-26359828847269035912007-12-04T10:53:00.001-08:002007-12-04T10:59:52.763-08:00Procura-se compositorProcuro músico com melodias para serem letradas. <br />Ou quem queira musicar meus poemas.<br />Se estiverem interessados, comentem esse post.Lucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-37233041912154417482007-11-08T04:54:00.000-08:002007-11-08T05:11:13.191-08:00Viaduto do Cajua vida dividida<br />(ônibus entre dois sonos)<br />brevemente despertada<br />pelo ruído atômico<br />quase com espanto<br />vê da janela um sonho <br />e cabe inteira<br />na gentileza do<br />intervaloLucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-74304779390480924952007-10-29T10:16:00.000-07:002007-10-29T10:18:01.856-07:00Realidade PalpávelO corpo nunca mente<br />a inescapável<br />possibilidade<br />dos lábios<br /><br />Mas a promessa<br />só é sincera<br />se a verdade<br />é adiada<br /><br />O olho chama<br />A alma cama<br /><br />O corpo apenas sementeLucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-83952253427933075762007-10-21T11:27:00.000-07:002007-10-21T11:38:47.739-07:00CorridaEu não tava preparado pra aquilo. Acho que ninguém estaria. Talvez algumas pessoas pudessem até encarar com certa naturalidade uma coisa daquelas. Mas não alguém como eu. <br /><br />Minha vida sempre foi simples, ou melhor, sempre foi complicada, mas com complicações previsíveis, rotineiras. Em outras palavras, uma vida simples. Vez por outra o pneu do carro furava, ou algum moleque arranhava a lataria. Já havia sido assaltado duas vezes, número até pequeno na minha profissão. Às vezes brigava com minha esposa, mas sempre voltávamos. Às vezes eu jogava na loteria. Não ganhava nunca. <br /><br />Era basicamente isso, vida simples. Isso e vagar de carro pela noite, pelas ruas da Zona Sul, esperando um casal de jovens na porta do cinema, ou uma senhora idosa que voltasse da visita aos netos. Às vezes um filhinho de papai cheio de uísque. Uma vez uma loira linda tinha dado sinal. Passei a corrida observando o decote pelo retrovisor. Bati. Foi uma merda. Às vezes quando chegava em casa de madrugada, exausto, ainda tinha disposição para fazer amor com a Carla. Esse tipo de coisa acontecia, vida simples, mas nada como o que aconteceu naquela noite.<br /><br />Esqueci de falar de uma coisa que acontecia muito, principalmente em Janeiro. Chuva. Muita. Era uma merda maior do que bater por causa de decote de loira linda. Não dava pra andar. Quando começava cedo eu nem saía de casa. Sem corrida. Mas quando ela tava meio fraca eu arriscava, afinal, tinha aluguel pra pagar. Aí eu caia na armadilha, ficava preso no trânsito do Jardim Botânico ou alagado em Botafogo. Não ganhava uma corrida. Naquela noite maldita também estava chovendo, mas a corrida apareceu.<br /><br />Passei em frente a um lugar desses, que a juventude gosta de freqüentar, onde eles bebem demais pra dirigir e tem medo demais pra andar a pé, onde as corridas são curtas e eu posso voltar rapidinho e pegar mais uma leva de adolescente chato. O problema é quando vomitam. Aí tem que mandar lavar, pagar caro, merda. Sempre discuto quando eles vomitam, fico estressado, a pressão sobe. É uma merda, é pior do que quando chove. Deixa pra lá! Naquela noite ninguém vomitou no meu banco.<br /> <br />A corrida foi de um cara alinhado, todo bem vestido, terno preto. Meio coroa, lá pelos cinqüenta. Sei lá. O importante é que o cara não era um adolescente filho de papai, nem o pai de um deles. Ou talvez fosse, tanto faz. O que é mesmo importante é que eu percebi exatamente o que ele era no momento em que o vi. Não me pergunte como um cara como eu pode reconhecer algo assim. Vai ver eu não sabia. O que eu estou dizendo? Eu sabia, só não quis aceitar o fato. Era só uma corrida, ia acabar rápido. Eu fiquei olhando o sujeito pelo retrovisor, mas ele não tinha decote, nem peitos bonitos que me fizessem salivar, só tinha aquele olhar sinistro, os cabelos grisalhos e um sorrisinho escroto.<br /><br />Naquela época ainda não tinha esses rádios que avisam a gente das corridas. Se tivesse rádio era capaz de eu conseguir me distrair e levar numa boa. Talvez. Talvez tenha gente que consiga encarar esse tipo de coisa com naturalidade, mas eu fiquei ali, com um olho na pista e outro no sorrisinho, andando de vagar, no meio da chuva.<br /><br />- Boa noite.<br />- Boa noite.<br />- Pra onde?<br />- Você sabe.<br /><br />Continuei guiando. Foi aí que o cara resolveu abrir o paletó e tirou um maço de cigarros do bolso. É uma merda quando alguém fuma no carro. Fica o cheiro. Eu sempre fico nervoso quando alguém insiste em fumar no carro. Paro. A pressão sobe. Uma merda. Mas naquela noite eu não falei nada. Eu sabia o que ele era e não queria me meter, só queria acabar a corrida numa boa, pegar meu dinheiro e ir pra casa.<br /><br />Às vezes penso que eu devia ter falado alguma coisa, parado o carro, deixado a pressão subir. Mas um cara como eu não sabe o que fazer numa situação dessas. O que você faria no meu lugar? É uma merda, mas sei lá. Acho que eu tinha que seguir em frente, acelerar e terminar a corrida. É o que eu sempre faço.<br /><br />E fiz. Fui dirigindo no meio da água, desanimado com a chuva, nervoso com o sorrisinho e sem querer acreditar no que era aquele cara. Mas acreditando assim mesmo. Eu só queria fingir que não sabia. Minha vida era simples, e eu nunca soube muita coisa. Então segui até ficar parado no trânsito, como sempre acontecia quando chovia. Quem dera ter uma loira gostosa exibindo os seios e os lábios carnudos no banco de trás. Ah! Eu ficaria horas parado na chuva. Delirando. Mas só tinha fumaça pra respirar, e o sorrisinho pra ver. Tentei me distrair com a cruz pendurada no retrovisor, ela balançava pra lá e pra cá. Ainda a mantinha lá, mas não acreditava mais. Não acreditava, mas sabia o que era, sempre soube. Não deu pra distrair grande coisa.<br /><br />- Vira ali.<br />- Mas ali não tem saída.<br />- Vira.<br />- Tá.<br /><br />Virei, não queria discutir. Às vezes acho que não devia ter virado. Sei lá, podia ter falado forte. Mas aí a pressão ia subir, eu ia ficar estressado. Ia ser uma merda. E eu não queria discutir. Eu sabia o que ele era. Um cara como eu não sabe como lidar com isso, entende?<br /><br />Pegamos um atalho e fomos parar no túnel. Atravessei tossindo com a fumaça e vendo o sorrisinho que brilhava no meio da escuridão. Eu sempre atravessava o túnel. Sempre ficava meio nervoso com aquele negócio fechado e escuro. Às vezes eu dava uma volta passando pelo Centro só pra não passar por túnel. Era uma merda. Mas aquela noite eu peguei o túnel e não fiquei nervoso com isso. <br /><br />Cheguei em casa de madrugada. Ainda tava com disposição pra trepar com a Carla. Às vezes acontecia. Subi e fui pro quarto. O cara do sorrisinho ficou gargalhando enquanto eu fodia bem gostoso aquela vagabunda. Eu sabia o que ele era, sempre soube, e nele eu não deixei de acreditar. Depois que eu me fartei, foi a vez dele. Ele foi na cozinha e pegou uma faca de churrasco. Foi uma merda.<br /><br />Hoje eu tenho uma vida simples outra vez. Ou melhor, complicada, mas com complicações previsíveis, rotineiras. Ou seja, vida simples. Às vezes os camaradas aqui fazem uma bagunça e queimam uns colchões. Às vezes reclamo, e sempre me arrependo. Às vezes tento sair, mas nunca consigo. É isso, uma vida simples. Isso e me arrastar à noite entre os corpos prensados dos meus colegas de cubículo, ouvindo gargalhadas e vendo o sorrisinho escroto em cada rosto semi-adormecido. Uma vez, veio uma loira linda visitar um colega, e eu fiquei olhando aquele decote. Levei um soco, foi uma merda. Às vezes, enquanto espero minha vez de dormir, de madrugada, ainda sinto saudade de fazer amor com a Carla. Essas coisas acontecem, vida simples. Mas nada como naquela noite.Lucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-87695330200653518912007-10-17T10:49:00.000-07:002007-10-17T10:56:06.201-07:00TertúliaNo próximo dia 29 acontecerá a "Tertúlia" - evento literario<br />com 6 poetas convidados - no Campus Niterói da Unversidade<br />Estácio de Sá. O acontecimento propõe-se a apresentar novos<br />autores ao público universitário.<br />Eu estarei lá, como parte da organização do evento e dois<br />dos meus livretos "Fragilidade", contendo textos selecionados<br />deste blog, serão sorteados à platéia.<br />A última edição do evento contou com a presença de jovens<br />talentos como George Orteyga e André Vargas.<br /><br /><strong>Tertúlia</strong><br />29/10 - 20:20<br />Universidade Estácio de Sá<br />Campus Niterói - Bloco B - Sala Multimídia<br />Rua Eduardo Luiz Gomes, 134 - Centro - NiteróiLucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-24903434548584144382007-09-28T12:19:00.000-07:002007-09-28T12:21:03.435-07:00Metroblogging RioAmigos,<br /><br />Estou colaborando com o blog "Metroblogging Rio" também.<br /><br />Vejam meus posts no endereço:<br /><br /><a href="http://rio.metblogs.com/">http://rio.metblogs.com</a><br /><br />Mas não esqueceri deste aqui. Em breve, novos poemas em verso e prosa.<br /><br /><br />um abraço,<br />LucasLucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-16185512876264314582007-09-27T07:20:00.000-07:002007-10-08T13:55:00.385-07:00Laura Loura<script src="http://www.google-analytics.com/urchin.js" type="text/javascript"><br /></script><br /><script type="text/javascript"><br />_uacct = "UA-2761373-1";<br />urchinTracker();<br /></script><br /><div align="justify">A parte mais sexual do corpo de uma mulher é o nome. Pelo desejo, algumas se reduzem a apenas isso. Ela. Sussurrada entre sonhos. A língua toca suave entre as vogais. Repete-se, com pequenas variações, até o orgasmo. Deveria haver normas rígidas sobre a escolha de nomes para o sexo feminino. Nunca seria capaz de amar uma mulher sem a letra ele. Lúcia, Helena, Lorena, Paula, Leonora, Clarice. Jamais Ana Maria.<br />Propus-me a contar. Minha mente profundamente libidinosa exige a história de uma mulher linda e trágica. Tentei-me com Lolitas seqüestradas, mas meu lápis não desliza em folhas gastas. Busquei perfumes e enredei-me no ouro de louros cachos. Achei. Laura. Apaixonei-me pelo erre gratuito. Perdi-me no olhar dos dois as verdes. O da esquerda me pisca de leve e quase se fecha. Laura, Laura, Laura. Esqueço-me nas pronúncias até que e o som já não sai de minha boca. Sou apenas papel beijado pelo grafite.<br />Laura sou eu.<br /><br />* * *<br /><br />Nasci antes que a cidade na qual. Altos de montanha friozinho neblina. Ás vezes eu era. Certa vez me fui. Nem pai nem mãe nem avô, que beijei de má vontade e já não. Tenho a pele muito branca e nunca havia visto oceano. O Sol me espiava o tornozelo como se eu fosse mais que um poema. Mas Copacabana. Escondi meus sonhos em lençóis alugados. Pus cordas em meu pescoço. Acordei. Ardia. A Música. Amei.<br /><br />* * *<br /><br />Laura L., cantora e compositora, nasceu em agosto de 1980 em uma pequena cidade serrana do estado do Rio de Janeiro. Aos dezessete anos de idade deixou a casa de seus pais para viver na Cidade Maravilhosa, onde começou a trabalhar como camareira, a cursar a faculdade de Comunicação Social e a apresentar-se em bares e casas noturnas. Entre suas composições mais apreciadas pelo público estão: “O meu nome é esse”, “Meu amor distante” e “Tua voz”. Faleceu no último domingo, aos 26 anos, em decorrência de ferimentos sofridos no incêndio criminoso do ônibus em que viajava para sua cidade natal.<br /><br />* * *<br /><br />Quando olhei aquilo. Foi ai que. Foi naquela coisa que enxerguei. Ela. E não era. Lágrimas correndo até meus lábios. O pretume não me enganou. Aquele pretume tão preto que parecia o preto do carvão preto. Porque era. Mas ainda queimava alguma brasa branca. Por algum tempo. A Laura era loura como a cerveja que a gente tomava. E eu adorava a doçura da cabeleira dourada. Mas Laura era amarga, mesmo na cara branca feito espuma. E a espuma se desfaz uma hora. A brasa apaga. Tudo finda. Laura loura, que queria ser preta, acabou sendo só cinzas.<br /><br />* * *<br /><br />A primeira vez que a vi. Laura. Loura, ali na Lapa, cantando ao lado do lixo. Achei linda. E aquela voz. Na voz eu via meu vazio. Mas ela me enchia, me achava, me inchava o ego quando me elogiava. Eu explodia com seu canto. Mas quando ela gozava, eu não gostava do grito. Saiu de minha casa, e ainda morou na gaveta da escrivaninha, onde eu lia e relia, e ela era só minha. Até que.<br /><br /><br />* * *<br /><br />E se ela ler a notícia? Vai continuar a vida, tudo igual, fingir que não é com ela? Ou se vinga, olho por olho, me mata, joga no lixo, me usa pra limpar merda de bicho? Laura loura queria ser preta, mas eu a deixei marrom. Na imprensa. E ela nem pensa em me procurar.<br /><br />* * *<br /><br />Tragédia Carioca: ex-namorado chifrado põe fogo em ônibus e mata cantora. Há testemunhas, mas eu matei todas. Não. Eu sou todas. Eu sou Laura. Sou linda. Sou o filho da puta do ex-namorado. Podem me prender. Não. Tenho direitos. Não à noite. Tenho o direito de botar fogo nesse apartamento. Eu quero ser preta, mais preta que aquela voz linda. Quero ser negra igual ao carvão. Quero o amarelo do fogo nos meus cabelos. Quero ser rubro-negro. Branco azedo.<br />Mas Laura, a essa altura, deve trabalhar em um Cassino em Nevada e nunca saberá como morremos.<br /><br />* * *<br />Só eu que vi. E só vejo o que quero. Madrugada. Só eu naquele lugarzinho. Ouvindo o grito. O cabelo preto ficou amarelo igual ao dela. Da Laura. Só que cheirava mal. Mas chorei de emoção assim mesmo. Ninguém vai querer saber de nada. Ninguém acredita em acidentes. Só eu que vi. E todo mundo só vai ver o que eu quero. E preto não tem nome.<br /><br />* * *<br /><br />Sou só papel beijado pelo grafite. Rasgo negro aderindo ao branco. Eu morava dentro daquela gaveta. Ás vezes abria pra me olhar de perto. E via que era ela. Até que. Assisti a gente queimando na lixeira do escritório. O amarelo brilhante ao redor do nosso abraço retorcido e apertado. O branco beijado pelo lábio vermelho. Até que não havia limite entre a letra e a pele.<br />Foi ai que. Foi naquela coisa que enxerguei. A Laura jogada no chão. No papel sujo. Pisada, usada pra limpar, embrulhar, queimar. Habitando os becos e as piores bocas. Só assim posso salvá-la. Libertá-la. Só se eu queimar nossos corpos no povo.<br /><br />* * *<br /><br />Laura, Laura, Laura. Repete-se, com pequenas variações, até o desespero. Nunca amaria uma mulher sem a letra ele. Ele sou eu.<br /><br />* * *<br /><br />Acabei indo. Nem disse. Só pra ele. Contei da partida no pedaço de papel. Adivinhei dúvidas. Então, diz que morri. Cresci antes que a cidade na qual. Renasci antes que ela morresse. Cantando ao lado do lixo. O olhar fixo no rapaz assustado. Sempre esqueço depois de lembrar que.<br />Dia desses li nossa morte. Ele cumpriu. Li e calei. E sorri. Nem pai, nem mãe, nem avô, nem ex-namorado. Nem polícia. E a notícia distante, feito o fogo brilhante, escureceu minha pele. Arde. Arte em minhas veias. Sereia que sou. Só canto. E o corpo impossível. Aqui não sou mais que um poema. Invisível. Nunca quis ser loura, nem Laura. Nem preta. Não sobraram cordas. Nada mais me ata. Só ele é que era nós. </div>Lucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-135979401637790312007-08-03T10:51:00.000-07:002007-08-03T11:11:32.131-07:00LivreA gata me ganha,<br />arranha, se esfrega,<br />se entranha<br />na minha vida,<br />mas lambe a pata,<br />esquecida, e nega:<br />dorme quase sozinha<br />no nosso abraço<br />sem nome.Lucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-42654035260034788722007-07-30T06:48:00.000-07:002007-07-30T06:50:19.548-07:00Altruísmoeu nada mais sou <br /><br />que um artifício gramatical<br /><br />para que você<br /><br />possa ser<br /><br />nósLucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-25602084883393661992007-07-24T17:26:00.000-07:002007-07-24T17:32:20.004-07:00Maioridadehoje é ele<br />quem pousa<br />a mão em meu<br />ombro<br />e o seu sorriso<br />inventado<br />já e maior<br />que o futuroLucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-50260682413333308912007-07-16T17:22:00.000-07:002007-07-16T17:24:25.535-07:00Restoso gato na cama<br />me reclama<br />como pode<br />me morde <br />a orelha<br />e saboreia<br />o fato raro <br />daquele espaço:<br />sou rato:<br />rôo ruidosamente o que caloLucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-82440417780348987342007-07-11T08:56:00.000-07:002007-07-11T09:17:33.226-07:00ProteuO mar e o teu <br />corpo tem<br />essa onda que<br />dá em mim<br />e os dois tem <br />sal e brisa<br />suave, e uns<br />fósseis de seres<br />que habitaram <br />antes e essas coisas<br />pequenas que eu <br />não sei o nome<br /><br />O mar e o teu<br />corpo são<br />calmos, só<br />se agitam nas<br />tempestades<br />quando me afogam<br />e os dois tem<br />a areia quente<br />ao redor, e me<br />dão vontade<br />de cerveja gelada<br />à sombra de<br />qualquer um<br /><br />O mar e o teu<br />corpo são<br />tão iguais<br />que sei que não<br />podem existir<br />a não ser na<br />música distante<br />que soa através da<br />concha de onde<br />nunca saíLucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-68989361362570438132007-07-05T11:52:00.000-07:002007-07-05T11:55:58.394-07:00MaclabaContaram-me o segredo daquela cidadezinha, assim, como se fosse sacanagem. E não podiam. Contaram e eu nem acreditei. E nem podia. Só peguei o avião. Precisava. Depois os infinitos buracos da estrada. Fui. Não dei atenção ao tal mistério. A Cláudia ainda teve medo. Só alguns dias, falei. Não vai acontecer nada. E eu nem podia saber. Eles nem podiam ter contado. O segredo. Mas eu não acreditei mesmo, eu acho. Como eu poderia acreditar? Eu, com 32 anos. Cabelos castanhos. Noivo. Novamente senhor de mim. Auditor. Sem temor de nada daquilo. Com certezas absolutas. Eu, que venci lutas, que escapei do abismo. Às vezes cismo em ainda olhá-lo: lisérgico, coca, maconha. Larguei. Acabou. Mudei. Maclaba: nunca deve ser dito.<br /><br />Cheguei no final da tarde. O poente solidário ao vermelho da terra. Procurei o hotel. Ruim. Lembrou-me da minha primeira trepada. Não, só do motel. Do resto esqueci. Esqueci de comer. Liguei pra Cláudia, estou com saudade. Saí, andei um pouco pela rua. Lembrei. O segredo. Olhei nos olhos da velha varrendo a calçada. Descalcei os sapatos, deitei. Lembrei de comer. Lembrei da puta da primeira vez. Tive algumas dúvidas a respeito do meu trabalho no dia seguinte, e liguei para o escritório. Fechei a pasta. Tirei a roupa. O banho frio. Finalmente lembrei. O segredo. Sonhei com a velha da calçada. O sorriso. O rosto surrado. A vassoura gasta. A pasta de documentos. A massa do hotel. A merda da vida. O sorriso. O segredo. O céu vermelho. Os olhos vermelhos. O pesadelo. O sangue. A mata. A larva. Acaba! Maclaba: nunca deve ser dito.<br /><br />Os únicos que não pude largar foram o tabaco e umas doses de vez em quando. Como o sol ainda não tinha nascido, fiquei. Goles e fumaça. Olhei pela primeira vez a montanha. A mata. A noite. O segredo. Lembrei da mulata da primeira vez. Lembrei da onda. Cannabis Sativa. Na praia. De manhã. A noite mal dormida. O vermelho dos olhos solidário ao chão. A Prefeitura. Fiz o meu trabalho como pude até a hora do almoço. Algo me perturbava. O segredo. Saí. Procurei nos olhos dos pedestres. Não os achei solidários. O sorriso das crianças. Eles não sabiam. Mas podiam notar. A Cláudia. A comida. A cerveja. O cigarro. Mais trabalho. Os funcionários me olhavam nervosos. Nunca tive pena. As contas, por favor. A propina. Os olhos vermelhos. Saí. A noite. A mata. Queria ir direto pro quarto, dormir. Mas a velha não tirava os olhos de mim. Nem varria mais. O sorriso se mexia. A mão trêmula. A lágrima. O pavor. Adormeci com a imagem. O segredo. Os lábios. Os livros. Os velhos. Eu que havia muito não lia nem acreditava. Vagava sem sono. Como a velha da calçada. Lembrei. A montanha. O murmúrio. As letras. As sílabas. A mágica. Calada. Maclaba: nunca deve ser dito.<br /><br />Toda manhã tinha merda de cavalo na frente do hotel. As larvas me incomodavam. Lembravam-me. O segredo. E moscas rodeavam meu caminho. O sol forte. A pele já solidária ao vermelho do pó. Saía cedo. O trabalho. Os funcionários já davam tapinhas em minhas costas. As crianças pararam de sorrir. O almoço. A cerveja. O cigarro. Sempre. Passava muito tempo na biblioteca. Procurava. O segredo. A saída. Lisérgico. Consegui quem me desse. As sílabas andavam em minha boca. O monte de bosta no hotel. A larva. A montanha. Todo dia eu olhava nos olhos da velha. Os séculos. O murmúrio. Agora ela já tinha esperança. Mal dormia. Apenas sonhava. O cheiro do hotel lembrava aquela minha tia. A primeira vez que fui a um cemitério. Lembrava o motel. A mulata. A puta. A punheta. A tragada. A viagem. O banho frio. Frases antigas. A chave. A Cláudia. A Morte. Maclaba: nunca deve ser dito.<br /><br /><br />Só entendi que era o dia do meu aniversário muito depois que a Cláudia chegou com o bolo. É nessa espelunca que você tem vivido? Percebi que já era tempo. Ela resmungou sobre a barba. Olhou estranho. Peguei a bebida. Ofereci. Tinha algo mais ali. Lisérgico. Saímos caminhando entre as sílabas mágicas. Ela nem notou a merda. Nem a larva. O segredo. A velha sorrindo em aprovação. Tinha a mesma cara da puta da primeira vez. Não, era a cara da tia. E ela nem era mulata. Nos seguiu. O alto. A montanha. A mata. A larva caminhando entre as cascas. A cruz retorcida. O poente solidário ao sangue. O sexo. O quase orgasmo no sorriso da velha. A Cláudia. O segredo. As palavras. O murmúrio. A coisa que saía dos poros. A larva renegando a casca. Os espinhos. Meus dedos. Os dentes. O poente desaparecendo. Algo nasce. O sangue. O sabor. O horror. Vermelho. A morte. Acaba! Vermelho. Acaba! Maclaba: só eu pude ouvir o grito.<br /><br />Não costumo mais ir à biblioteca. Cansei de procurar. O segredo. Não desisti. Apenas sei. Não ligo mais pra merda na frente do hotel. Não há saída. Ninguém mais me olha nos olhos ao voltar pra casa. Os funcionários sorriem. As crianças me evitam. Nunca esqueço de comer. O sangue. A propina. As meninas. Não há mais lisérgico. Nem penso na larva. O vermelho da terra é solidário aos meus crimes. O sorriso. O sabor. Não preciso mais da velha. Tenho meus séculos. Não durmo. Nem sonho. Não serei como ela. Não esperarei um estranho. Gosto da cidadezinha. O abismo. Lembra-me a primeira vez que ouvi as palavras. O segredo. A montanha. A mata. O murmúrio. Não sairei. Mudei as sílabas antigas. As letras caladas. O som. A morte. O vermelho. A mágica não acaba. Maclaba: nunca mais será dito.Lucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-66084495402251074182007-06-24T15:52:00.000-07:002007-06-24T16:03:08.130-07:00Beautiful Girl Reading Bukowski (para cris e beta)às três<br /><br />horas da manhã<br /><br />ela sorri e<br /><br />derrama palavras<br /><br />como se<br /><br />todas as noites<br /><br />terminassem com<br /><br />o sol.<br /><br /><br /><br />e não sinto<br /><br />em que dias ou<br /><br />horas, mas sei<br /><br />que às vezes<br /><br />até é verdade.Lucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-7032479746391781552007-06-24T14:12:00.000-07:002007-07-05T12:00:13.338-07:00fica<p class="MsoNormal">mais um beijo</p> <p class="MsoNormal">nem vejo onde começou</p> <p class="MsoNormal">mas acaba sendo como antes</p> <p class="MsoNormal">toda vez que cismo em ficar </p> <p class="MsoNormal">até depois de partir e chegar de novo</p> <p class="MsoNormal">(eu outro)<br /></p> <p class="MsoNormal">na mesma vocês<br /></p> <span style="font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman";"><br /></span>Lucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-28859379496168439162007-06-23T12:08:00.000-07:002007-06-23T12:11:11.995-07:00A última imagemo reflexo no<br />espelho quebrou-se<br />como a promessa<br />dizem que dá azar<br />não sei, mas na imagem assim<br />partida<br />enxergo melhor a sua<br />como a voz distante<br />passada<br />ao vidro frio<br />pela cor do beijoLucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-53467937532524308542007-06-20T16:40:00.000-07:002007-06-20T17:05:00.974-07:00TimidezEla me chega como se não fosse o mundo.<br />Olhares. Espelhos. Vermelhos. Lábios. Rios.<br />Ainda ondulo na pista em que a vi.<br /><br />Ela me beija como se não fosse profundo.<br />Pés. Pernas. Guerras. Sussuros. Gritos.<br />Ainda há barulho pra abraçar por aí.<br /><br />Ela se ajeita como se não fosse escuro.<br />Amor. Pavor. Paladar. Indicios. Vicios.<br />Ainda a espero, mas ela apenas sorri.Lucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-29876887372703352542007-06-10T12:15:00.000-07:002007-06-10T12:22:29.091-07:00Eu te amo (em homenagem ao dia que ainda não é hoje)<!--[if !supportEmptyParas]--><!--[endif]--><o:p></o:p> <p class="MsoNormal">Quando nos vimos</p> <p class="MsoNormal">sorrimos, e o primeiro feitiço</p> <p class="MsoNormal">lançou-se entre o beijo e o calor</p> <p class="MsoNormal">o amor era só um desejo</p> <p class="MsoNormal">e o desejo era mais que o amor<br /><br /></p> <p class="MsoNormal"><!--[if !supportEmptyParas]--> <!--[endif]--><o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal">Quando sentimos</p> <p class="MsoNormal">queremos, e a sentença</p> <p class="MsoNormal">nos uniu, apesar da dor</p> <p class="MsoNormal">o amor era só uma esperança</p> <p class="MsoNormal">era mais esperança que amor<br /><br /></p> <p class="MsoNormal"><!--[if !supportEmptyParas]--> <!--[endif]--><o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal">Quando partimos</p> <p class="MsoNormal">partiu-se a realidade</p> <p class="MsoNormal">e nem amizade sobrou</p> <p class="MsoNormal">o amor é só uma saudade</p> <p class="MsoNormal">e a saudade é maior que o amor<br /><br /></p> <p class="MsoNormal">Quando canto, reato</p> <p class="MsoNormal">mais do que rompo, o encanto.</p> <p class="MsoNormal">pois nessa voz escrava que escuto</p> <p class="MsoNormal">o amor é só uma palavra,<br /></p> <p class="MsoNormal">mas a palavra é maior que tudo.<span style="font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman";"></span></p>Lucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-9649643218645347652007-06-02T20:54:00.000-07:002007-06-02T20:56:13.310-07:00ReminiscênciasDilim! Dilim! Dilim!<br />Tocava meu pai no bandolim.<br /><br />Perdi meu pai.<br />O bandolim ainda tenho,<br />intocado.<br /><br />Só a música continua exatamente a mesma:<br />Dilim! Dilim! Dilim!<br />E agora toca dentro de mim.Lucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-38486673106147655762007-06-01T09:36:00.000-07:002007-06-01T09:42:25.730-07:00InspiraçãoAo nascer,<br /><br />Acorrentaram-me aos lábios<br /><br />Os mais belos poemas.<br /><br />Não os posso falar.<br /><br />Soariam falsos.<br /><br />Para isso vivo:<br /><br />As lágrimas corroem lentamente cada grilhão.Lucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3166966633650704230.post-69725280623575218822007-05-30T05:43:00.000-07:002007-05-30T05:45:06.094-07:00Essa Pessoa (letra aguardando melodia)essa mulher<br />o que quer<br />nem eu sei<br />mas eu sei:<br />se é amor<br />vai doer<br /><br />nela existe<br />algo triste<br />sem saber<br />que viver<br />é amar<br />é sofrer<br /><br />finge que tudo é lindo<br />esconde o choro sorrindo<br />essa pessoa sem pudor<br /><br /><br />cala a própria beleza<br />fingindo não ter tristeza<br />vai fugindo do meu amorLucas Nicolatohttp://www.blogger.com/profile/14525082863888278261noreply@blogger.com4